Autoral

Divinópolis - MG

Ensaio "O Luto"

INTRODUÇÃO


Morte, vida e reconstrução. Juntar os cacos de uma subjetividade destruída e fragmentada, para que a vida faça sentido novamente. 


O vazio ensurdecedor de um fim de casamento. Divórcio: quem quer falar sobre isso? Ninguém. Porque é dolorido, constrangedor e um tanto quanto humilhante.


Um processo no qual nos tornamos extremamente vulneráveis. Uma separação faz com que os sonhos que construímos sejam esfregados na nossa cara com um certo tom de fracasso. Frustração. Desilusão.


São emoções desconhecidas que percorrem e povoam o corpo humano como um réptil que troca de pele e desliza, áspero, com suas escamas abertas e texturizadas sob o que pensávamos que conhecíamos, num movimento sensorial estranho e esquisito.


Existe alguém que passe por isso sem  o menor rastro de destruição? Provavelmente. Porém, já não confio nessa pessoa. 


Por mais que esteja claro que o relacionamento acabou e não há mais escapatória, sempre dói deixar uma parte da nossa estória para trás. Afinal, é um pedaço nosso que também chega ai fim. 


Divórcio também é morte. Um assassinato de alguma versão de nós memes. Um sequestro do que era familiar. Um crime diante de nossas projeções.


Uma oportunidade de rever quem somos, quem fomos e quem gostaríamos de ser. Um caminho desconhecido, porém de reconstrução, renovação e ressignificações urgentes. 


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I - O LUTO

Luto

lu-to

substantivo masculino, feminino e humano

1) sentimento de pesar ou tristeza pela morte de alguém

2) tristeza profunda causada por grande calamidade; dor, mágoa, aflição

6) o aspecto tristonho das coisas



Luto é um olhar vago. Estático em qualquer breve coisa. Parado e amortecido. 


Luto é sobrenome da angústia. Não tem rosto, forma ou limites. 


Luto é uma dor que rasga o peito, deixando as sobras escorrendo pelo chão.

         é a solidão desconhecida da solitude.

         é a memória desavisada que acende sem ser chamada.


Luto é visita permanente. É aquele chato parente. 


Luto são as mudas de roupa que não se quer lavar.

         é o silêncio que berra, o vazio infinito, a alma esmorecida.


Luto é a coluna que se curva.

            a vontade esquecida

            o que precisa ser enxergado mas não se quer ver.


Luto é montanha-russa cardíaca

         é o sono aflito

         o sonho que não se lembra

         é um pesadelo, afinal.


Luto é o chão não varrido

         é a louça insossa

         é um desabrigo

         o se jogar por entre as paredes


Luto é o compromisso adiado

         é uma sombra pegajosa

         uma esquisitice indesejada


Luto é poço que não tem fundo

         um vazio sem nome

         um incômodo intermitente


O presságio de uma Semente.


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O SALTO


Um salto de fé. De esperança, sonhos e um coração quente.


Agradeço por estar acompanhada de mim mesma. Pela oportunidade de me reconstruir, mais uma vez. 


O amor que ando cultivando precisa de atitudes compatíveis com o que desejo para minha vida daqui para frente. Que eu escolha melhor os lugares em que quero estar. As energias que desejo e mereço sentir. Os momentos e movimentos que honram minha existência, minha estória, o que nutre minha alma. 


Aceitar que a LIBERDADE me aguarda, e já faz tempo.


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ESTRUTURA


Estou recomeçando minha vida do zero, mais uma vez. Mas me é familiar: depois da queda e dos becos sem saída, o sonho da liberdade volta a me atiçar.


Sim, é assustador, por ser um puro e louco salto de fé mas, ao mesmo tempo, é mais uma oportunidade de criar a vida que desejo e mereço para mim.


Mais uma chance de estruturar minhas raízes de acordo com meus próprios valores, honrando minhas diferenças e respeitando cada doce e único pedaço de mim. Por dentro e por fora.


Conhecendo, encarando e fazendo as pazes com minhas sombras, abro caminho para que minha luz se irradie de forma cada vez mais intensa. 


E é disso que sou feita: de luz e profundidade, sombras e fartura de verdade, um romantismo sério e descabido pela minha liberdade. 


Respeitar e honrar quem se é: essa é a cerejinha do bolo mais suculenta.


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